A gente tem que aprender coisas


A gente tem que aprender coisas pra passar na vida.
Não estou falando coisas de escola
que essas te entram na cabeça
e saem pelos ouvidos
procurando outros ouvintes surdos.
Estou falando das coisas que vemos
e, depois disso, nunca mais esquecemos:
O gato a te atrapalhar as poesias
O carro a te enfurecer, barulhando o sono da tarde
A nuvem a esfarelar e confeitar o céu anil
O velho sozinho no pôr-se do Sol
As meninas pequenas fazendo-se grandes
Os meninos pequenos sempre meninos
A Lua linda que faz da noite dia
O rapaz que te pisca e ilude
A vizinha que faz da janela olhos
O beijo que você nunca roubou
A chuva que nunca molhou
ou sim
A história da família inteira
nunca completa, nunca lúcida.
A gente tem que querer paz
Tem que lutar, porém
Não é questão de idade no boletim
É questão de experiência nas rugas e nos cabelos brancos.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS
Read Comments

from roça


Cheguei da roça ontem.
Eu digo e não digo que aquele lugar é o fim do mundo. Acho que depende mais do humor, da lotação, do momento. Dessa vez eu preferia não ter ido. Também parece que todas as vezes que você viaja exatamente porque não tem nada pra fazer na sua cidade é que as coisas acontecem nela.
Viajei mais porque estava muito à toa. Já que a H1N1 prolongou nosso pequeno recesso, fiquei mais uma semana por aqui, vendo filmes cults e idiotas, ficando na internet até tarde (exercendo minha nerdisse), lendo um livro de 475 páginas (ou algo assim) e pensando naquela minha tarefa de geografia sobre Honduras que até hoje não tive vontade de fazer.
Daí que eu voltei. Agora vou continuar meu tédio. Filme, livro, meu cappuccino, cigarro (mentira!), internet, às vezes até rola uns amigos, mas eles estão como eu.
O fato é que lá na roça a água era gelada, os dias eram geladas, as noites eram hiper geladas. Eis o perfil dos meus companheiros de quarto: um roncava tanto que eu achei que tinha insônia (fato: minhas olheiras), a outra era só deitar que dormia. Aí eu ficava horas deitada com muita raiva dos roncos e sem companheiro pra virar a noite. Isso tudo vinha com brinde: o caseiro bêbado é um inferno, e o caso é que ele bebe todos os dias e põe aquela musiquinha muito legal: “Pula boi, pula cavalo, pula cavalo e boi, coração pula no peito, saudade ..” Enfim (parei porque não sei o resto).
E sabe o que parecia? Que aquele cara pra voltar a fita (sim, fita!), ele rodava aquela paradinha com o dedo, porque sempre dava uma pausa antes de tocar as mesmas 5 músicas (é, eram só 5!). Bêbado é foda! É mais foda ainda quando ele vem falar com você. [ironia]Ê, mas eu dei uma sorte[/ironia]. Eu não entendia nenhuma palavra do que aquele cara dizia, só não caí fora porque estava cuidando da porta do banheiro pra minha prima que estava lá dentro (fato: o banheiro era do cara, porque o chuveiro dele era o único que a água saía quente).
Aí eu quis voltar. Ninguém merece.
É claro, o lugar é incrível. O céu é incrível. De noite e de dia. Mas eu não estava tendo paz pra conseguir ficar em paz. É isso mesmo! Paz pra ter paz. Se você dorme mal, tem que tomar um banho por dia pra não morrer de frio e tem que ficar fugindo de bêbado você não tem paz pra curtir a onda.
Ah, enfim.
Maktub.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS
Read Comments

O Pequeno Príncipe



Direção: Stanley Donen
Roteiro: Alan Jay Lerner
Ano de produção: 1974

Inspirado na obra de Antoine de Saint-Exupéry



Pois é, eu vou falar aqui de um filme que passava na sessão da tarde dos anos 70 e 80, mas que hoje eu vi pela primeira vez na vida no Telecine Cult. E esse filme é O Pequeno Príncipe, cujo livro inspirado eu já havia lido (se não me engano ainda no ano passado). Na verdade, li esse livro duas vezes. Na primeira vez eu não estava realmente interessada, e li como quem lê um mesmo anúncio colado no ônibus todo dia. Depois, não lembro bem porque eu quis lê-lo outra vez, mas sei que foi aí que eu compreendi a essência do livro.
Não sei dizer se há agressividade o suficiente pra afirmar que seja uma crítica, mas se for, é destinada a um tal de senso-comum que a gente chama de envelhecimento. A gente pode envelhecer por fora, mas a alma só envelhece se deixarmos que ela murche e que ela perca interesse pelas simplicidades, como quando somos crianças. E quando o somos, vemos sempre um novo dia, nos interessamos por tudo, imaginamos; e quando crescemos, parece até que esse mundo morre e só fica uma lembrança embaçada do que fomos um dia. Eu poderia ser criança pra sempre, e acho que não é muito fácil. Caso eu tenha a sorte de não ser corrompida pela sujeira da sociedade...
O Pequeno Príncipe é isso, é uma eterna criança, talvez como Peter Pan, mas no sentido de sempre enxergar as coisas além do que se pode ver com os olhos: “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível para os olhos”.Também vejo no Pequeno Príncipe o amor verdadeiro, a sua fidelidade pela sua rosa, a sua felicidade em possuí-la e dizer que ela é única, e, em contradição, a sua tristeza ao descobrir que no planeta Terra há tantas rosas iguais a do seu planeta. “Se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar em milhões e milhões de estrelas, isso basta para que seja feliz quando as contempla”. No entanto, ele ainda se sente responsável por sua rosa, e volta ao seu planeta por ela.
Quanto ao filme, a representação da história é fiel ao livro, o menino, principalmente, lembra muito os desenhos de Saint-Exupéry. Uma parte que gostei tanto no filme como no livro, é o seu encontro com a raposa. No filme a aproximação é um musical, o que torna a coisa um tanto cansativa, daí a minha preferência pelos livros, mas não deixa de ser boa.
O que eu aprendi e continuo aprendendo com o Pequeno Príncipe é justamente a frase mais conhecida: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, o que é uma verdade, e uma grande verdade. Não é fácil encontrar amigos de verdade, muito menos pessoas de verdade, se você estiver procurando apenas alguém que te ouça e não faça mais nada, bem, está cheio de gente assim por aí, mas se você quiser alguém que queira te conhecer e te chame a atenção quando você precisar, aí você terá que cativá-lo. E quando você cativa é que vêm as responsabilidades. Não basta fazê-lo. Faça e tudo lembrará a pessoa da sua existência, e com esse tipo de sentimento se deve ter muito cuidado: o amor.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS
Read Comments

Encontros e desencontros


Sabe quando você deita na sua cama 6 horas da manhã pra tentar dormir, mas a única coisa que você consegue fazer é pensar? E pensar, e pensar, e lembrar, e fazer planos. Sabe quando você vai pensando tanto que chega a se sentir sozinho? Eu faço muito isso. Parece loucura. Às vezes eu acho que sou a única pessoa que pensa no mundo. Não estou dizendo isso porque acho que os outros são ignorantes (apesar de que alguns o são), mas porque me sinto sozinha. Eu posso estar com um monte de pessoas ao meu redor, mas pra mim elas são só passantes, e é interessante como de longe - assim, sentada na calçada olhando a rua, ou deitada na cama lembrando o dia - parece que elas realmente não pensam como eu, ou não entendem a vida como eu.
Eu olho o mundo, os postes acesos, as pessoas no bar, as pessoas consumindo, as pessoas passando com bolsas e mais bolsas, se divertindo, rindo, falando, sei lá, o que as pessoas fazem, e às vezes é só isso. Só olho, e elas são apenas para serem olhadas. Você só conhece uma pessoa quando consegue olhar nos olhos dela e ver algo de sentimento, algo que a torne uma pessoa para ser sentida, porque são os olhos a janela da alma, segundo a sabedoria japonesa.
E é justamente no Japão que ocorre tanta movimentação tecnológica, tantos carros, e prédios altos e pessoas com hábitos estranhos. É um lugar onde é possível você se sentar ao lado da janela do seu apartamento e olhar a cidade lá embaixo e pensar quantas pessoas tem a noite corrida, e quantos carros tem pessoas dentro, mas você se esquece dessas pessoas por um instante, e esquece do mundo ao seu redor. O que você sabe do mundo é que há barulho, o pior é quando só o silêncio embala seu pensamento.
Encontros e desencontros é um filme que trata desses mundos: o mundo lá de fora, e o mundo aqui de dentro. Tanto Charlotte quanto Bob são pessoas extremamente solitárias, apesar de serem casados e estarem numa cidade tão ativa como Tókio. A atuação é excelente, e todo o filme tem esse clima de solidão, de mutualidade, impessoalidade. Dá pra ver no rosto de Charlotte que ela não é feliz, que ela não está fazendo o que quer, igualmente no de Bob, cujo casamento não tem profundidade. Eles se envolvem, mas não como um casal, não se apaixonando perdidamente. Eles se envolvem como pessoas que não estão acostumadas a emoções fortes, mas que precisam disso, que precisam provar a si mesmas que essa solidão interior pode ser eliminada por algo exterior.
Será preciso ficar só pra se viver? Será preciso conhecer a solidão pra perceber nos olhos do outro o que ele é? Encontre-se e desencontre-se, encontre e desencontre. Que eu faça o que quiser, mas que eu nunca termine sozinha esperando o crepúsculo – não desejo isso pra ninguém.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS
Read Comments