Meu nome é Tempo


Olha, meu nome é Tempo.

Nasci quando ninguém mais tinha nascido. Já tinha passado bastante quando vi o mundo. Eu vi aquele azul imenso e pensei: que tal um passada lá? Fato foi eu ter ficado, e surgiu o sempre - meu infinito, o que me torna imortal. Pois bem, sou Sempre.
As pessoas sentavam-se sob suas árvores e olhavam o horizonte, elas achavam que faziam muito pouco de mim, e me retalharam. Fizeram de mim passado, presente e futuro. O passado foi para que suas lembranças jamais morressem e para que suas histórias me fossem companheiras; o presente foi para que me aproveitassem como tal, para que tivessem noção do que fazer comigo (quando os homens começaram a temer o crepúsculo); e o futuro é o mais complicado. Pra que é que me transformaram também em futuro? Uma parte de mim que não se conhece. Antes eu me dizia Sempre, porém eu, Sempre, estava garantido. Não existia essa colocação de futuro. Eu era eterno e só. Os dias eram dias como eu passava, e a noite nunca vinha porque não era necessário trocar. Mas agora... Agora tenho que me transformar. De repente sou presente e quando bate o sino da meia-noite alguém pensa e viro futuro, então outro pensa e sou presente de novo, e outro pensa e sou passado.
Estou cansado. Mas não posso parar. Como a morte, minha companheira, eu estou preso nesse fluxo da vida dos homens. Se eu paro, eles logo pensam que o Sol vai cair sobre suas cabeças.
Sou o Tempo e eu cuido dos homens.
Sou o Tempo e a sua vida é minha.

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Liberdade?


Quando o seu mundo cai, o que você faz? O que você tem vontade de fazer?
Eu tenho vontade de pegar a minha vida inteira, enfiar dentro de uma mochila e queimar. Depois começar tudo de novo.
Por que nós, que somos humanos, temos essa tendência de fazer tudo errado? Certo que eu cansei de dizer que não sou desse mundo, mas eu nasci aqui. Pode até ser que é o lugar errado, que é o momento errado, que é a vida errada, mas é e pronto. Sou humana, sou uma pessoa. Eu minto, eu erro, eu sou impulsiva. Mas quando eu perdoaria, os outros não perdoam. Daí me perguntam por que é que eu sou tão revoltada? Ah, vão se foder!
Quem é que quer saber da minha vida se nem eu quero saber? Por mim eu seria bicho, seria passarinho, eu voaria alto e longe, eu seria livre. Hoje parei pra pensar em liberdade. Liberdade sou eu sozinha no paraíso. Sozinha. Sabe por quê? Se ser livre é poder fazer tudo (e não! Ser livre não é fazer tudo de forma dosada, porque aí já há controle), e nem tudo o que eu faço os outros concordam, ou se eu faço sem a opinião deles sempre alguém sai machucado, então ser sozinho é ser livre. Mas quem vive sozinho?
Vem cá, esquece essa história de que aquariano é individual e etc, foda-se o zodíaco também. Humano é humano, é isso.
Liberdade pode existir, mas se quiser ser livre esqueça seus amores, esqueça suas crenças, sua religião, os padrões da sociedade, esqueça sua vergonha, esqueça tudo. Vai, cria asas e voa, mas voa pra longe, bem longe.
Eu tenho medo de ser livre.

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Ela é


Ela é vida, ela é esperança, ela é saudade, ela é falta, ela é presença, ela é vontade. Ela é dona, só não sabe disso. Ela é guarda e é rainha, ela é fortaleza e é vidro, ela é forte e é frágil, ela é rara e é comum.

Ela é menina-mulher, e é mulher-menina, pequena grandiosa, grande menina dos olhos. Vejo brilho nos seus olhos. Juventude e tristeza, mas felicidade e ansiedade. Delicadeza felina, curiosidade, atenta e arisca. Posso tentar agarrá-la e ela escapa como vento.

É menina-vento, é vento-menina. Ventania forte, bruta nos anseios, cuidadosa nas verdades. Me pega e me leva de jeito, apresenta céu e inferno no mesmo palco. De pé em pé, pé em passo, passo em passo, passos curtos, pesados, adolescentes, que querem mudar, mas não mudam. Vou atrás. Ela passa pelas portas como passa por florestas, rodopia feito fadinha, sorri sorriso de anjo, o som da sua risada é lírico, meu lírio do campo. Corre e desfaz, faz tudo de novo.

Ela é conhecedora, ela é paz, ela é puro acordo, ela é pura, e só pura, alegria, tentação, inocência, imensidão. Ela é o que não sabe. Vejo nos seus pulos uma dança. Dança comigo? Daminha dos reis que são heróis, menina dos olhos que são errados. Tem doce, tem melodia, tem um gosto diferente. Tem palavras que são mágicas, tem jargões que faz de lei.

O seu choro é meu choro, sua tristeza é meu incômodo. Quero seu sorriso no meu sorriso, o seu brilho no meu peito. Menina-flor, menina-estrela, menina-raio-de-sol-iluminado. Minha miss Sunshine. Dorme como quer correr, e corre como quem quer descansar.

Ela é perdição, ela é caminho, ela é ponto final, ela é dúvida. Sentimentos saindo pelos fios de cabelo, pelos fios da boca, pelas pontas dos dedos. Quero seus dedos no meu rosto, e seu rosto no meu rosto. Quero suas indecisões na minha história, quero suas guerras no meu livro, quero suas coisas bobas nos meus problemas.

Ela é voz, ela é espírito, ela é ela mesma. Espontaneidade, hormônios morrendo e nascendo nos mesmos segundos que os cílios de cima tocam nos de baixo. Ela finge que faz, e finge que é. Morde os lábios, e morde os meus, quer morder meu coração, quer apertar tudo, quer tudo pra si. Ela é ciumenta e é adivinhadora, ela é compreensiva e é contradição. Me quer, não quer, desconta em mim raiva pequena, eu que não levo a sério, eu levo a sério seu franzir de sobrancelhas.

Ela é mulher de um homem só, mas é mulher de experiências. Ela é menina decidida, mas é menina brincalhona. Ela quer porque quer e é só. Deixe que faça, deixe que arrependa, deixe que cresça, mas não queira que seja adulta. Ela é menina pra sempre. Ela é raio de sol pra sempre.

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RAPIDAMENTE FALANDO


“Eu queria era dizer diferente, coisas que todo mundo sente, mas não consegue explicar.”



Sabe qual é o maior problema de escrever? É que se você se apega às palavras, nunca mais pode viver sem elas. Tudo o que você sente, vive, pensa, imagina, tudo mesmo, te dá vontade de escrever, de registrar, de explicar.

Eu escrevo como sonho. Todas as noites é minha rotina ir lá e escrever. Não digo que é um diário, porque odeio contar meu dia. E se conto, sou detalhista demais, e ser detalhista em monotonia não faz sentido. Mas eu percebo - todas as pessoas que se apegaram às palavras não conseguem mais passar um acontecimento sem falar dele. E o pior é quando por mais que você tente explicar você não ter sucesso nisso.

Já tentei explicar sentimento. Quer saber? Não dá. Sempre vai haver uma nova interpretação pra tudo. O que é simples um dia é complicado no outro. Sentimento é x e y. Escrever é x e y. Mas nem por isso parei de tentar, porque eu simplesmente preciso escrever, por motivos que mudam sempre: vontade de colocar coisas pra fora, coisas que você não pode dizer pra outras pessoas, ou acha que elas não vou te escutar ou te entender. Coisas que você precisa explicar pra si mesmo; coisas pra guardar; coisas repentinas.

Mas é preciso ter cuidado com as palavras. É muito mais fácil machucar alguém com elas do que com os punhos. Com palavras dá pra mentir.

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