Encontros e desencontros


Sabe quando você deita na sua cama 6 horas da manhã pra tentar dormir, mas a única coisa que você consegue fazer é pensar? E pensar, e pensar, e lembrar, e fazer planos. Sabe quando você vai pensando tanto que chega a se sentir sozinho? Eu faço muito isso. Parece loucura. Às vezes eu acho que sou a única pessoa que pensa no mundo. Não estou dizendo isso porque acho que os outros são ignorantes (apesar de que alguns o são), mas porque me sinto sozinha. Eu posso estar com um monte de pessoas ao meu redor, mas pra mim elas são só passantes, e é interessante como de longe - assim, sentada na calçada olhando a rua, ou deitada na cama lembrando o dia - parece que elas realmente não pensam como eu, ou não entendem a vida como eu.
Eu olho o mundo, os postes acesos, as pessoas no bar, as pessoas consumindo, as pessoas passando com bolsas e mais bolsas, se divertindo, rindo, falando, sei lá, o que as pessoas fazem, e às vezes é só isso. Só olho, e elas são apenas para serem olhadas. Você só conhece uma pessoa quando consegue olhar nos olhos dela e ver algo de sentimento, algo que a torne uma pessoa para ser sentida, porque são os olhos a janela da alma, segundo a sabedoria japonesa.
E é justamente no Japão que ocorre tanta movimentação tecnológica, tantos carros, e prédios altos e pessoas com hábitos estranhos. É um lugar onde é possível você se sentar ao lado da janela do seu apartamento e olhar a cidade lá embaixo e pensar quantas pessoas tem a noite corrida, e quantos carros tem pessoas dentro, mas você se esquece dessas pessoas por um instante, e esquece do mundo ao seu redor. O que você sabe do mundo é que há barulho, o pior é quando só o silêncio embala seu pensamento.
Encontros e desencontros é um filme que trata desses mundos: o mundo lá de fora, e o mundo aqui de dentro. Tanto Charlotte quanto Bob são pessoas extremamente solitárias, apesar de serem casados e estarem numa cidade tão ativa como Tókio. A atuação é excelente, e todo o filme tem esse clima de solidão, de mutualidade, impessoalidade. Dá pra ver no rosto de Charlotte que ela não é feliz, que ela não está fazendo o que quer, igualmente no de Bob, cujo casamento não tem profundidade. Eles se envolvem, mas não como um casal, não se apaixonando perdidamente. Eles se envolvem como pessoas que não estão acostumadas a emoções fortes, mas que precisam disso, que precisam provar a si mesmas que essa solidão interior pode ser eliminada por algo exterior.
Será preciso ficar só pra se viver? Será preciso conhecer a solidão pra perceber nos olhos do outro o que ele é? Encontre-se e desencontre-se, encontre e desencontre. Que eu faça o que quiser, mas que eu nunca termine sozinha esperando o crepúsculo – não desejo isso pra ninguém.

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